Era inicio de agosto de 2009, estava eu lendo o blog de meu amigo poeta Aluisio Martins, quando deparei-me com a poesia "Meninas". Essa poesia me tocou tanto, que imediatamente, comecei a escrever um conto em homenagem a ela e ao poeta. Depois de terminado o conto disse a minha filha: esse conto vai virar um roteiro para um filme e se tudo der certo faremos o filme. Deu certo...


sábado, 5 de março de 2011

Meninas

Onde tudo começou...

meninas não são prováveis
desejos instáveis
retratos em branco na parede sem futuro

meninas não são palpáveis
amores voláteis
segredos indiscretos nos diários noturnos

meninas não são possíveis
pudores risíveis
bilhetes guardados detrás dos muros

meninas são tão lindas
ainda mais
quando não são
mas fingem-se tímidas

porcelanas chinesas
cristais suíços
solitárias princesas
reinos imprecisos

seus principes são belos adormecidos
roubam, quando muito,
beijos escondidos
sem se saberem bem antes escolhidos
e mais não levam sem mundos prometidos

meninas são tão lindas
(instáveis, voláteis, risíveis)
ainda mais
quando não são
mas fingem-se meninas


Aluisio Martins

o Encontro

O conto...

Olhou-se no espelho, agora contente, pois enfim conseguira escolher a roupa apropriada para a ocasião: um encontro há muito esperado. Não se podia ir de qualquer jeito, precisava ir parecida a ela mesma. Sempre teve a impressão que algumas roupas a faziam virar outra mulher. Não, hoje precisaria dela. E assim, escolheu o seu vestido azul. Este vestido dizia tanto dela, que às vezes, o vestir era como desnudar-se. E era assim que ela queria estar para essa ocasião.

Não lembrava muito bem como o conhecera, pois tudo foi tão rápido. Lembrava sim, que o primeiro que lhe chamou a atenção nele, foi sabê-lo poeta. Fora tomada de assalto por suas palavras, o peso e a leveza, contidos em cada palavra, eram vertiginosos. Fora Chico, nunca ouvira outro homem dizer tão profundamente da alma feminina. E ele dizia. Era lindo se ver mulher a partir do olhar daquele homem. O acompanhava diariamente, cotidianamente. Lia e relia várias vezes seus poemas, seus contos. Era sua maneira de encontrá-lo. Sabia dele a partir de suas palavras.

Mas não o conhecia. Aliás, não da maneira costumeira. Salvo uma foto que tinha em seu blog, nunca o tinha visto. Não sabia como era o seu andar, que gestos utilizava ao falar, como seria sua voz, como seria a palavra falada por ele. Não. Não sabia nada disso.

Mas, eis que o inesperado aconteceu: um encontro. Sim, um encontro com ele. Um encontro que de tanto esperado, agora provocava medo. Medo de sabê-lo real, humano, nítido. Mas, não poderia deixar de ir. Não poderia perder a oportunidade de conhecê-lo. De tê-lo perto. Estava feliz. O lugar não poderia ser mais apropriado, um sarau de poesia. Ali, iria encontrá-lo.

Chegou atrasada. Será que ele ainda estaria por aí? Não sabia. Estava tão ansiosa. Procurou-o pelo salão. Ali estava ele, com sua beleza indizível e sua palavra indescritível. Aproximou-se devagar, como querendo reter para si o momento. Sentou-se diante dele e, ainda teve tempo de ouvir, como se fosse para ela, as últimas palavras do poema que ele acabara de ler finalizando sua performance:


“... meninas, são tão lindas
(instáveis, voláteis, risíveis)
ainda mais
quando não são
mas fingem-se meninas.” *




*poema “Meninas” de Aluisio Martins

O Encontro - Filme Curta-Metragem

"Aurora" a música...